Alimentação na Vila Olímpica: como a diminuição da proteína animal impacta o desempenho físico de atletas
 

Matéria

Alimentação na Vila Olímpica: como a diminuição da proteína animal impacta o desempenho físico de atletas

14 / Agosto / 2024

Professora de Nutrição da FADERGS explica importância da regularidade e da manutenção de ingredientes nas dietas dos competidores

 

Os Jogos Olímpicos de Paris têm gerado desconforto para algumas delegações esportivas por conta das refeições oferecidas na Vila Olímpica, onde os atletas se concentram durante o período de competições. Com os primeiros dias marcados por desabastecimento e críticas ao cardápio, o comitê organizador do megaevento optou por providenciar nesta segunda-feira, 29, uma tonelada de carne e 700 kg de ovos ao restaurante do complexo, que produz diariamente 40 mil refeições.

Antes dessa decisão, uma das propostas do comitê organizador era oferecer mais da metade dos ingredientes de origem vegetal, vindos de produções locais. Com o objetivo de ser uma Olimpíada marcada pela sustentabilidade, a organização deseja reduzir pela metade a pegada de carbono em comparação aos eventos de 2012 e 2016. Entre as medidas tomadas para alcançar a meta está a promoção de uma alimentação mais ambientalmente sustentável, com um cardápio que reduz a disponibilidade de proteína animal, a exemplo das carnes e ovos.

Uma dieta balanceada é um fator fundamental para a saúde de qualquer pessoa, mas alguns nutrientes são ainda mais importantes para o desempenho de atletas de alto rendimento, já que o condicionamento físico está diretamente relacionado à qualidade nutricional do que é ingerido. “É fundamental nas refeições de todo atleta ter a proteína, que age no organismo como construtor da massa muscular, dando força, e o carboidrato, que é a principal fonte de energia para o exercício que vai ser feito e para a reposição do que é gasto em atividade física”, explica Rochele Boneti, professora do curso de Nutrição da FADERGS. A especialista destaca que proteínas têm micronutrientes essenciais como ferro e vitaminas, especialmente as do complexo B, como a B12, que é mais presente nos itens de origem animal.

Apesar de serem mais concentradas em carnes, ovos e leite, as proteínas e seus benefícios também são encontrados em alimentos de origem vegetal, principalmente em leguminosas, como feijão, lentilha, grão-de-bico e soja. Por isso, a profissional explica que a escolha dos alimentos que irão suprir as necessidades nutricionais segue as preferências individuais, devendo ter atenção apenas às adaptações de quantidade para atingir a meta proteica de cada atleta. “O ideal é manter a mesma rotina de hábitos alimentares dos competidores também durante os jogos, porque trazer uma diversidade nas refeições nesse momento de Olimpíadas não é positivo para o atleta, já que ele pode experimentar ingredientes que não sejam do seu costume e, por consequência, ter algum desconforto que afete o desempenho físico”, destaca a nutricionista.

Para preservar a qualidade da rotina alimentar durante este período, o acompanhamento nutricional é um dos suportes fundamentais no condicionamento das equipes nas competições esportivas. “Os impactos da mudança de consumo de proteína demora alguns dias para ser sentida efetivamente na força muscular, já no caso dos carboidratos, a ausência desse nutriente tem impacto imediato, com a queda de energia no corpo”, explica Rochele, reforçando a importância da orientação de especialistas que estudam como os alimentos influenciam o organismo durante o desempenho atlético.

Pensando nos objetivos de sustentabilidade propostos pelo comitê organizador das Olimpíadas deste ano, a professora de Nutrição da FADERGS sugere que o foco poderia ser mais efetivo se voltado a uma campanha contra o desperdício de alimentos, em vez da substituição de itens oferecidos. “Em termos nutricionais, a sustentabilidade é o que cada corpo aceita e tolera, então, não adianta fazer uma troca total de proteína de origem animal por vegetal se o corpo do atleta se sentir fraco e não conseguir ter o mesmo desempenho físico” explica. “A transição alimentar deve ocorrer a partir de um teste, que tem de ser feito antes da época de Olimpíadas, se há o interesse do atleta por essa substituição”, conclui Rochele.