Dívidas com juros altos são prioridade para aplicar 13° salário
 

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Dívidas com juros altos são prioridade para aplicar 13° salário

14 / Novembro / 2023

Economista dá dicas para equilibrar receitas e despesas que surgem na passagem de ano

 

O fim de ano representa uma injeção de recursos para quem é trabalhador celetista, com o pagamento do 13° salário, que ainda pode vir acompanhado de adiantamento de férias e bônus por metas ou Programas de Participação de Resultados (PPR). Poderia ser uma boa pedida para garantir os presentes de Natal, as festas de Ano-Novo, as férias na praia, mas… no ano seguinte, janeiro já chega trazendo despesas extras, como impostos e matrículas escolares.

Para ajudar a equilibrar as novas receitas e despesas e a se organizar para melhor direcionar os recursos, o economista Jorge Ussan, professor da Escola de Negócios da FADERGS, elenca quais devem ser as prioridades em cada caso. “Em geral, o trabalhador brasileiro consome todo seu salário, não costuma ter uma reserva ou aplicações financeiras, e tem dívidas, sejam controladas ou aquelas com juros altíssimos”, analisa.

 

1. Prioridade total: dívidas

Diante desse cenário, o especialista é taxativo: “a prioridade total deve ser pagar dívidas, especialmente as de juros altos, como do rotativo do cartão de crédito e do cheque especial. Tem que ir ao banco, abater o que puder e, se precisar, tirar um empréstimo mais barato para começar a sair dessas dívidas, que têm juros estratosféricos e podem virar um incêndio na casa”, alerta.

Mesmo quem não tem dívidas descontroladas pode optar por antecipar parcelas. “O financiamento da casa ou do carro, e mesmo o cartão de crédito, costuma ter descontos para quem adianta o pagamento. E para ajudar a quitar imóvel, pode usar o FGTS”, sinaliza, citando o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.

 

2. Impostos

Há muito debate sobre a validade de antecipar impostos em parcela única quando o desconto é baixo – em Porto Alegre, o IPTU parte de 5%, por exemplo. Mas Ussan não tem dúvidas que, para quem não tem investimentos financeiros robustos, para além da poupança, sempre compensa.

Se a pessoa não tem uma aplicação que renda mais do que isso, pagar IPTU e IPVA com desconto é a melhor opção. E o pagamento antecipado ainda tem um caráter pedagógico, ajuda a organizar as finanças. Quando se deixa para pagar depois, acaba gastando em outra coisa, esquecendo parcelas e o atraso gera multas”, orienta o especialista.

 

3. Matrículas escolares

Quem estuda ou tem filhos em instituições particulares não pode esquecer que, além das mensalidades, o ano começa com a taxa de matrícula, que geralmente sofre reajustes, e podem vir ainda gastos com material didático. Essas são outras despesas que devem ser colocadas na ponta do lápis antes de pensar em desfrutar dos pagamentos recebidos no final de ano.

 

4. Férias fora de temporada

Elencadas as prioridades e com recursos reservados para elas, vale planejar as férias. Planejar, mas não necessariamente viajar no fim de ano. “Na verdade, quem não tem férias fixadas neste período deve se programar para viajar em outra época. Sempre depois do Carnaval! Aí os preços caem em média 40% e quem gosta de praia, que é um destino comum dos gaúchos, ainda consegue aproveitar uma estadia boa em março, gastando muito menos”, aponta o docente.

Ele também reforça que o pagamento das férias é um adiantamento: ou seja, o salário vai chegar com esse desconto depois – ou nem chegar. Portanto, quem está na situação de dívidas ou vive muito apertado deve desfrutar de férias mais “econômicas” e reservar esse dinheiro para saldar suas despesas usuais de cada mês.

Coloca o salário adiantado na poupança, coloca até debaixo do colchão, mas não vai correr o risco de gastar por conta e ficar sem nada quando voltar de férias. Não vamos ser moralistas, claro que as pessoas têm direito a férias, descanso e lazer. Mas dívidas destroem o orçamento familiar e vale a pena desfrutar de forma mais modesta para se organizar”, pondera o economista.

 

5. Enfim, festas e presentes

O mesmo vale, portanto, para as festas de fim de ano: “Dá para confraternizar e trocar presentes, mas sem perder de vista que o Natal tem um caráter mais simbólico. Optar pelo Amigo Secreto pode ajudar nesse ponto. Não dá é para se endividar comprando presentes para todo mundo e já começar o ano seguinte comprometido, estendendo esse estresse financeiro ao longo do ano. É importante conversar com a família e alinhar as expectativas, pois o combinado não sai caro”, sugere o professor da FADERGS.

 

Fora da CLT: Previdência

Alguns profissionais autônomos também registram um acréscimo nos ganhos no final de ano. É o caso do comércio, encomendas de comidas e motoristas de aplicativo, já que as pessoas se movimentam, confraternizam e compram mais no período de festas. “Mas esses trabalhadores, além das despesas do início de ano, enfrentam uma queda no movimento durante janeiro e fevereiro, época do nosso tradicional veraneio. É preciso se preparar para enfrentar esses meses”, observa Ussan.

Nesses casos, a prioridade é sempre descontar sua previdência. “É importante estar segurado, no caso de doença e até na perspectiva de aposentadoria. Geralmente recomendamos que as pessoas tenham uma reserva de seis meses de salário guardado. Isso é ainda mais importante para quem não tem a segurança do seguro-desemprego e do FGTS”, indica o economista.